Voltando a mim, lentamente. É isso que sinto. Pelo menos hoje, tive essa clara percepção. Durante meses a fio, deixei de gostar, simplesmente sobrevivia sem paixão por nada e até a minha cama já me era sitio pouco grato. Queria deixar de ser aquela e voltar a ser eu, a que amava, amar.
A sério, estava paranóica, liguei ao médico numa crise de nervos; o que raio se passa comigo?? - perguntei - colocando em cima da mesa uma série de possibilidades que ele naturalmente descartou. Talvez seja interessante deixar de ser a habitual anormal, e reflectir sobre uma problemática séria e que há por ai aos pontapés, casos infelizmente não diagnosticados. Sofro de epilespia do lobo temporal, não é nenhum bicho de sete cabeças, mas a medicação errada pode desfazer-nos a cabeça em água. Quer dizer, não tenho ataques, nem espumo da boca, nem fico delirante ou sequer rebolo pelo chão. Aparentemente sou a pessoa mais saudável do mundo, à parte daquela coisinha que está ali, mexe-me com o sistema nervoso, não sei ao certo o que é, não se vê, não doí, é dificil de explicar, mas continua ali, tipo moinha.
De acordo com o médico, estava com uma sobre dosagem para a actual massa corporal, que se reflectia num total alienamento ou em grosso modo, bruta que nem uma porta. Dificuldade de concentração, desinteresse geral, incapacidade de apreensão e um certo desanimo. Curiosamente, o meu cérebro voltou àquele burburinho de sempre, ideias e mais ideias, uma vontade enorme de escrever, criar, produzir, ser o que sempre fui desde com apenas 10 anos junto à máquina de escrever, imaginava os primeiros romances e esfolava os dedos a cada letra.
