Quando se conhece um pouco dos meandros da droga, das duas uma, ou se é genericamente compreensivo, com o drama a que ficam presos os envolvidos, ou por outro lado, radicalmente intolerante. Eu tenho dias. Alturas há, comovo-me, entendo como poucos os fantasmas da adicção, porque diariamente lido com os meus vícios, e sei que não é pêra doce dormir com eles à noite. Noutros dias, circunstâncias ou simplesmente azedume, resumo tudo ao deselegante comentário "são todos uns drogados de merda". Independentemente os humores, há uma coisa que não gosto mesmo nada... façam de mim parva. Conversa de, só fumo um "charrinho" às vezes para descontrair, já não pega. Talvez por isso, me tenha apetecido saltar para dentro da televisão, quando se falava do flagelo da droga em Alfama, num documentário bairrista na Sic. Numa esplanada um grupo de mulheres, claramente agarradas "à fruta", dizem sacudindo a água do capote, "nos anos 80 a droga chegou ao bairro". É uma fúria que se apodera de mim, não me julguem otária, que se saiba os narcóticos nunca tiveram pernas para se mover sozinhos. Uma coisa é certa, pernas não têm mas dão-te asas, e em contrapartida, como um passarinho azarado, ficas com o cérebro esturricado.