domingo, 17 de junho de 2012

Vai-te embora...cheiras mal!


Poderão achar que não tenho tabus, mas tenho. Há assuntos que me encomodam, e são geralmente os que toda a gente comenta, como diria a Ana, "à tromba estendida", mas que me transtornam. O Ricardo anda embeiçado pela morena lá do sítio, mas não quer dar parte fraca, porque todos querem dar uma "martelada" naquilo e, por qualquer motivo, tem a mania que é um gajo especial e não come o mesmo que os outros. Ele vai para junto de mim e justifica-se, inventa mil e uma histórias para a morena não ser de todo um atrativo aos seus sentidos de macho carente, e eu oiço de sorriso irónico nos lábios. Desesperado, diz-me:

- Sabes porque eu jamais poderia ter alguma coisa com ela?

- Porque ela não quer, está claro! - respondo.

- Não. Porque tem mau hálito e eu sou muito esquisito com cheiros!

Eu até gostava do Ricardo, até entendia toda aquela negação, quem nunca negou algo que está mesmo à frente do nariz, atire o primeiro calhau....e certamente levará com ele em ricochete mesmo na tola. Fiquem sabendo, meus caros, não curto que se questione o hálito de ninguém. É assunto tabu neste blog. Sabem lá se a rapariga não terá problemas de estômago? É assunto sério, sim! Respeito.

Absolutamente Fodível!


A Patrícia não é nenhum portento, tem no entanto, os seus encantos. Encantos esses que se perderam aos 18 anos, casou e viu-se com uma criancinha nos braços. Para todos os efeitos o filho é o bem mais precioso do seu mundo, o marido a maior abécola à escala interplanetária, e com o passar dos anos, a Patrícia definhou, perdendo a capacidade de sonhar e fantasiar. Até um dia, decidiu arranjar um amante. Eu vi o brilho no olhar da Patrícia, sorriso aberto de quem tinha sido tão deliciosamente fodida, e antes de ter tempo para aplaudir a sua performance de "mulher, mãe e amante", a revelação. Outro pássaro andava na costa, em vez de um tinha dois amantes! Levantei-me e pedi uma ovação, grande coirão me saiste. Sê como a nossa Florbela, fode este, aquele, todos...e nenhum e quem bem quiseres, mas não deixes de seguir os teus ímpetos.

Havia de ser bonito!


Diz que tenho peitos descaídos. Eu, sinto-me socada pelas suas mamas. Uma só certeza, elas vão saltar do soutien a qualquer momento e deixar-me um olho à belenenses. Insiste, uma mulher curvilínea, honrando a sua condição feminina, deve ter seios fartos. Silicone nas "manas" leva-me às senhoras do buço e sovaco peludos, as tais que um dia queimaram soutiens na praça pública, exigindo a emancipação da mulher e a igualdade de direitos. Tantas manifestações e estas pindéricas insistem em ser tratadas como "carne para canhão" pelos queridos fanfarrões, sem grande critério, lançam a rede a qualquer cardume. 

Ela diz-me, precisas de mais 15 anos, para compreender o impacto que um busto descaído tem na auto-estima de uma mulher. Não sei o que me ditará a idade, mal de mim, quando começar a acrescentar coisas ao meu corpo e assim parecer bem aos olhos dos outros. Porque se os homens estão cada vez mais preguiçosos em captar a verdadeira beleza de uma mulher, se nos dermos de bandeja, debruada em superficialidade, é claro que eles só podem ficar ainda mais curtos de ideias. 

Sim, tenho as mamas descaídas, e por acaso, até gosto. Daqui a 15 anos, sei lá se vou continuar a gostar!

sábado, 16 de junho de 2012

A merda da minha mãe...


...poderia revelar muito sobre o seu carácter. A merda da minha mãe é quase tão empedernida como a própria. Não quer largar o intestino, ali fica dias, semanas, teimosa merda, é exactamente como ela que poucas vezes cede à vontade dos que a rodeiam. A merda da minha mãe, é uma autêntica merda. Mas a minha mãe, não é, nem nunca foi uma mulher de merda. Na clínica, depois de uma dolorosa colonoscopia, com direito a aspiração de fezes, porque a malvada merda é tão reles que teima em não sair, vejo-a no corredor qual Inês pela verdura. Com os seus saltos prateados, vestido justinho, algo "grogue" mas sem deixar que isso lhe diminua o porte, saiu com o exame nas mãos e toda uma vida para tocar para a frente. Disse-lhe que parecia a Betty Boop, ela sorriu mas não faz ideia quem é a querida Betty Boop. Sem problema, nunca precisou que lhe afagassem o ego, sempre soube quem é,  e o valor que tem!

Algo de errado...


Eu e o Pedro de olhos colado ao ecrã do portátil. As atenções viradas para o novo videoclip  da Kylie Minogue. "The impossible Princess" de calções de ganga esfarrapados, tão curtos, quase lhe via as amígdalas. O que se diz ser o mais sexy traseiro do mundo mesmo na nossa cara, que mais não expressava que puro deleite.  Toda a gente sabe que homem a gostar de Kylie é porque está a vibrar com as plumas e  purpurinas. O Pedro garante que não é panasca. Fufa, não, e é até sabida a minha alergia à espécie. Facto é que não conseguia desligar dos provocadores movimentos de ancas da "pequena boneca". Definitivamente, houve algo de errado naquele momento. Senti-me a menina mal comportada a encontrar uma cassete do "Garganta Funda",  partilhando depois com um amiguinho. Perdida entre a vergonha e o "voyeurismo", só me faltava a pila entre pernas, para saber o que sentem eles quando nos tratam a nós como simples objectos de desejo. Para ajudar à festa, sai-me um comentário de alto gabarito, "ganda lasca", ao que o Pedro conclui "então não é?!"

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Smile:)


Prevê-se um bom dia. Porquê? Não sei, mas apercebi-me que os meus últimos posts terminaram com um smile:) Só pode ser bom sinal! Escrevo-vos do meu escritório, no meu imaginário é uma espécie de quarto à Carrie Bradshaw com o monitor virado para a janela e uma rua onde carros e ovelhas às vezes se cruzam. O céu está azul clarinho, as astes dos pinheiros agitam-se harmoniosamente, o disco novo dos Garbage, que agora escuto, é "do caralho" e hoje deve haver "bifanada" em Campo de Ourique. So far so good, so I smile:))

Yes Girl


Mulher forte não é sinónimo de automotora, retro-escavadora, para mover terrenos e levar tudo à frente. Há muito tempo que uma amiga não me deixava orgulhosa pela sua condição de mulher. A Manuela mudou de vida. Não é qualquer pessoa que sai da zona de conforto para começar tudo de novo, do zero, com uma mão à frente e outra atrás. Toda ela é dentes e a sua gargalhada que me dá cabo da mona. Por dentro sei-a escavacada, em cacos. Alguém lhe diga, por favor, a mulher extraordinária e forte que é, porque as minhas palavras não surtem qualquer efeito. Informem-na que a sua delicadeza e pureza de coração, são a verdadeira força a revelar-se quando é preciso, sem brutalidade ou ódio no olhar. Seria fácil resolver tudo a mal, encher-se de sentimentos de despeito, em vez disso, ama quem a ama, e sem medo, caminha rumo ao horizonte desconhecido....e a maldita gargalhada:))

E chegou o lobo mau...


O personagem mais parvo do "Chasing Amy" diz acertadamente "toda a gente precisa de uma pila". Tal como eu, não compreende as fufas e portanto acha que são uma fraude e na verdade deveriam levar uma bela "tarolada" para não se armarem em camionistas. Corroborar com uma postura tão machista, não sei o que fará de mim, mas infelizmente acho que um "berimbau" por dia, dá saúde e alegria. Caso contrário, corremos o risco de cair nas ruas da amargura, numa tremenda angustia e azedume, capaz de corroer todos em redor. O Ricardo, é um provocador nato, ao descobrir o meu fascínio por pilas circuncidadas fez questão de me descrever a dele. Francamente, isso é maldade, uma pessoa está muito bem nas suas lides e lá vem o jovem descrevendo graficamente o que para mim é uma espécie de "santo graal". Respiro fundo, sigo em frente, lá porque gosto, não quer dizer que ande para ai apanhando cogumelos mágicos, como se fosse o capuchinho vermelho à espera de ser comida pelo lobo mau. 

Pareço contraditória, certo? Gosto, mas fujo, como de uma cobra cuspideira. Confere. É fácil compreender...uma pila para mim, tem sempre de trazer um coração agarrado. Não condeno as levianas, mas deixem-me ser esta romântica de merda, eu gosto, às vezes até sofro, mas é sofrimento que dá gosto:)

A inveja é uma cabra


Feriado. Lisboa contentinha com os santos populares, a sardinha assada e o manjerico viçoso. Fizera planos para ir às bifanas ontem, terminei em casa a roer pipocas e o gato a assentar arraiais em cima de mim. Pronto, já não vou sair e ali fiquei a ver um filme indie no Hollywood. Tudo corria bem, mas os meus vizinhos tinham de me infernizar! Lá porque é feriado os meus jovens vizinhos fazem "o mais lindo amor" em versão estereo. Até o bichano acordou com os gemidos da querida, e o prédio entrou em reboliço com a tremedeira que se fez naquela cama. É o meu calvário, fins de semana e feriados, os casais aproveitam para se entregar à luxúria. Hoje acordei cedo, coloquei o meu novo vinil do Rei a tocar, e ainda pensei baixar o som para não incomodar, também não gosto de abrir a pestana ao som da música dos outros, e ainda por cima num feriado. Mas ninguém se preocupou comigo, ontem, entre pipocas e um gato, os outros dois mais pareciam coelhos, tudo à fartazana. Levantei o som e nem por acaso entoa a faixa "quero que você me aqueça nesse Inverno e que tudo o mais vai pró inferno". Grande Roberto Carlos!

terça-feira, 12 de junho de 2012

# Fazia-lhe a Folha: Ivo Canelas


Dá-te asas...


Quando se conhece um pouco dos meandros da droga, das duas uma, ou se é genericamente compreensivo, com o drama a que ficam presos os envolvidos, ou por outro lado, radicalmente intolerante. Eu tenho dias. Alturas há, comovo-me, entendo como poucos os fantasmas da adicção, porque diariamente lido com os meus vícios, e sei que não é pêra doce dormir com eles à noite. Noutros dias, circunstâncias ou simplesmente azedume, resumo tudo ao deselegante comentário "são todos uns drogados de merda". Independentemente os humores, há uma coisa que não gosto mesmo nada... façam de mim parva. Conversa de, só fumo um "charrinho" às vezes para descontrair, já não pega. Talvez por isso, me tenha apetecido saltar para dentro da televisão, quando se falava do flagelo da droga em Alfama, num documentário bairrista na Sic. Numa esplanada um grupo de mulheres, claramente agarradas "à fruta", dizem sacudindo a água do capote, "nos anos 80 a droga chegou ao bairro". É uma fúria que se apodera de mim, não me julguem otária, que se saiba os narcóticos nunca tiveram pernas para se mover sozinhos. Uma coisa é certa, pernas não têm mas dão-te asas, e em contrapartida, como um passarinho azarado, ficas com o cérebro esturricado. 

Consegues ouvir-me respirar?


Só há uma respiração que gosto de ouvir, a do meu gato. Sinto-o gente, ali mesmo no meu peito, focinho no meu pescoço, a ponta do nariz molhada e, por vezes, pequenos sons de descompressão. Quando a respiração pesada é de gente, não gosto, fico até com comichão. Há coisas que talvez deva guardar para mim, há muito que sei isso, mas a minha franqueza tem destas coisas. Ao contrário de mim, a Manuela é mulher que gosta de partilhar a cama, eu sou capaz de pagar para nem sequer partilhar o mesmo quarto. Mariquices de uma gata que sempre teve o espaço todo para si. Depois dela insistir porque raio não haveria de partilhar a cama com ela, disse-lhe de rajada como uma maluca, "porque tens a respiração pesada", e nem dei conta que isso poderia causar impacto. Há uns dias, num café, cheio de barulho, como quem não quer a coisa, pergunta-me, "consegues ouvir a minha respiração?". E pensei, para além de eu ser um calhau com olhos, o dia que a deixar de ouvir respirar a meu lado, quer dizer que a perdi e isso não é bonito...

Diz que não há necessidade...


Aquele ambiente do bairro dá-me azia. Comentava com a Cristina, eu deveria gostar de estar no meio da populaça, dos que comem de porta e boca aberta, e sinto uma espécie de culpa pelos muitos "compensan" que já "chupei" só de pensar ir à Mouraria ou a Alfama. É claro que no dia dos Santos, a coisa é diferente, uma pessoa vai de passagem, numa de turista come uma bifana cheia de sebo e aquilo sabe como em nenhuma outra altura do ano. Desertora, cresci no Bairro de Santa Catarina, junto à Bica, aos 8 anos escapei, para nunca mais voltar. Tenho saudades da Travessa da Hera, pela Dona Albertina e pela Fernanda, mas até elas se escapuliram para Oeiras. Dizia de mim uma bonequinha de luxo, sempre na sua redoma, cheia de gomas, chocolates, gelados, perfumes, cupcakes, Barbies ou comédias romanticas com final feliz. E a Cristina, perspicaz, sem rodeios, pergunta; mas há alguma necessidade da gata ser uma vira lata e meter-se no meio da merda?

Sopeirices...quem não as tem?


A Ana esteve cá em casa. Senti-me naquela canção das Amarguinhas, "Just Girl vai ser só curtir", vestir roupa fixe e retocar a maquilhagem. No fim das contas, ela ia realmente curtir a noite, era uma da manhã, quais Doce, hey, adivinhava-se uma directa, enquanto que a cama aguardava-me com o gato abanando a cauda em jeito de compasso. A miúda alindava-se, e eu ia-lhe pedindo desculpa pela minha casa estar um nojo, querida como sempre, diz-me que não sei o que é ter uma casa com dois filhos pequenos. Desce pela escada linda e vaporosa, o gloss nos lábios a brilhar no escuro, e eu a matutar. A casa dela tem duas crianças, a minha não tem nenhuma, apenas um gato que é mais limpo que eu. Hum, hoje pela manhã, andei como se fosse a última das mais devotas sopeiras. Infelizmente será sol de pouca dura e bem sei que os cabelos voltarão a ficar no ralo da banheira e o fundo da sanita ficará novamente sarnento.

domingo, 10 de junho de 2012

Periferias...


 Há uns tempos a esta parte ceguei para algumas pessoas, aliás sofro de uma distrofia qualquer inventado em cima do joelho, impedindo-me até de ter uma normal visão periférica. Não tenho inimigos, mas há pessoas que não gramo nem à lei da bala. Diz no entanto o bom senso, na minha área profissional, deve manter-se a cordialidade. Porém se eu não vir a pessoa, não tenho de engolir o sapo. E mesmo sabendo-a à minha frente ou no meu raio de visão, padecendo eu de tal enfermidade, como iria falar-lhe se não poderia vê-la?
Como ainda só estou parcialmente surda, se a pessoa chamar por mim, infelizmente terei de ouvir, virar-me-ei para ela, e desse modo justifico a educação que os meus pais me deram.

sábado, 9 de junho de 2012

Painless


Tenho tido desafios, ou coloco-me a jeito para os encarar, antes talvez fosse mais confortável ignorá-los e viver numa confusão tremenda. Não sabia o quê, mas algo me encomodava, como se tivesse uma conta por pagar, ou o carro mal estacionado, quem sabe uma porta mal fechada, havia sempre algo que me sobressaltava e não me deixava tranquila e gozar a felicidade que efectivamente sinto. A pedra no sapato andava ali, sempre, como uma moinha na cabeça que não passa mesmo depois de tomar uma caixa inteira de Benuron. Hoje, sinto que nada sinto, mesmo quando há situações fodidas a circundar-me. Não há dor, não corre uma lágrima pelo meu rosto, o meu coração não se sobressalta, não há angústia, tristeza, melancolia, vazio...não sinto nada. Parece que de um momento para o outro fiquei imune à dor, e isso não me tira sequer um minuto de sono, nada me tira um segundo de tranquilidade, e os cães ladram e a caravana passa. Penso, é estranho, para quem sempre sentiu as dores do mundo, deixar de sofrer é tão bom que até doi:) NOT!

Por terceiros talvez funcione...


Adoramos a conversa da sinceridade. Há que dizer as coisas na cara, olhos nos olhos, só que tantas vezes  marinbamo-nos para a honestidade dos outros, fazemos portanto, ouvidos moucos. 

Vejamos a minha situação, havia merda para limpar, e só eu poderia fazer árdua tarefa. Cada vez que limpo o cubicuo do "doce caramelo" canto Bonnie Taylor "loving you is a dirty job....but somebody's gotta do it" e a coisa faz-se. Ultimamente eu é mais Capicua nas rimas às vezes imperfeitas mas sempre certeiras. Não me apetece recuar ao tempo das permanente, cabelos ripados ou loiro oxigenado. A mãe veio a casa e como sempre, parecia um perdigueiro, comentou "cheira a merda". A sinceridade acima de tudo nesta relação. Eu continuei a desfolhar os meus livros da Anita e na sua contracapa descobrindo o infinito, até que a oiço falar ao gato "olha diz ai à tua dona para limpar a casota, porque cheira a merda que não se pode". E eu fui. Senti vergonha, ver o recado chegar a mim por terceiros.

Back to the 80s. Lá estava, cantando a "algarvia" Bonnie Taylor e no meu imaginário o cheiro tóxico da caixinha do gato, mais não era do que uma bafurada de laca extra nos meus supostos cabelos ripados.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Como ela consegue?

A última vez calcei sapatos altos, talvez uns meses atrás, jurei nunca mais. Adoro-os, como peça de arte. Lisboa infelizmente não é um museu ao estilo Louvre, mas diria antes uma capital amazónica, uma selva filha da puta, ideal para o calçado raso. Ela, desconhecida, salto em agulha numa calçada fodida, algures na cidade das sete colinas, caminhava segura. Mirei-a durante longos minutos, delgada a jovem cheia de classe, subia aquela malvada rua, com uma perna às costas. Tinha de descobrir, como ela consegue!? Simples, o segredo está na escolha do troço da calçada, em vez de se habilitar a deixar o salto preso entre o empedrado, caminha ligeirinha no corrimão paralelo à calçada, lisinho e o efeito é sublime, mais parece que se move como uma gata numa "passerelle". Apeteceu-me, dar-lhe uma pancadinha nas costas, fazê-la virar-se para mim e em jeito de Tyra Banks perguntar-lhe "Wanna Be on Top?"

No more Nice Girl!

Não sei que raio a Cristina fez comigo. Três consultas, apenas. E despachou-me com uma pinta do caraças. À hipnoterapeuta de formação, disse-lhe olhando fundo naqueles olhos azuis cor do céu, eu não acredito nestas tretas, mas como tenho umas quantas "gavetas" desarrumadas, este é talvez o último recurso. Três consultas, conversa, troca de ideias, e a tipa não lançou nenhum pêndulo frente aos meus olhos, não me adormeceu, não me deixou a falar para o ar como se tratasse de uma lunática rodeada de amigos imaginários ou fantasmas escondidos no armário. Nada. Um dia acordei e o meu cérebro parecia em "reboot" e o que sou mantém-se, porque não quero deixar escapar a minha ingenuidade e saltar para o reino cinzentão dos adultos. Mas se raras vezes tirei os pés do chão, agora sei, não devo caminhar por areias movediças ou terrenos empoeirados. Nunca neguei, sou uma gata da cidade, gosto da calçada limpa e acho que cada um deve limpar a merda do seu próprio cão. Levem um saquinho no bolso, sim? A armadilha comigo já não funciona e não voltarei a cair na vossa merda!

Como "desamigar-te" da minha vida?

Indignada, a Filipa, assumiu-se na condição ostracizada, ganhando o título "desamigada" no Facebook. Respondi ao post, erguendo o dedo e sem vergolha, "hey eu sou a rainha dos "desamigados", escrevi. Sorrateiramente, como quem não quer a coisa, lá despacho mais um ou outro, que me pesam no número de "amigos", gente (julgo de carne e osso) mas nunca vi mais gordos. Era tão mais fácil, no mundo real, pudesse clicar num botão e "remover amizade", ainda com direito a item para breve explicação. Iria directa ao ponto; desejo "desamigar-te", porque não te amo mais, não te quero mais na minha vida, pesas-me como um fardo que colhi sem dar conta. Acrescentaria ainda no motivo, dizes que te canso, e eu que ando cansada de ti há pelo menos meio ano, cada abraço é um amargo de boca, cada palavra da tua boca parece-me mais uma charada de um puzzle Hello Kitty.

É ou não É?


O médico, mais perspicaz que os demais, confirmou excesso de hormona masculina no meu sistema. Eu não fiquei nada surpreendida, explica até muita coisa, incluindo a minha certeza que o mundo seria um sitio muito melhor se nos amassemos pelo que somos e não pelo sexo que representamos. Apaixona-me a androginia, o híbrido, o que todos julgam como certo e no fim das contas é o revés. 

Então mas é um homem que parece mulher? A nenhum homem a gravata assenta tão bem como àquela mulher!

Sou no entanto, a primeira a recriminar-me, pertencendo ao largo grupo de indivíduos que gerem os seus pares com um apuradíssimo radar, capta apenas o que interessa e o que apraz à vista. 

Então gata, como ficamos, perguntarão? É a natureza humana, respondo, eu sou um animal, e lá porque sou uma quatro patas não se julguem diferentes de mim....shame on you.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

# Cats - Jane Birkin


O Guilherme disse em tom sério, temos de matar esse gato, ele está a boicotar a tua vida. É um facto que me sinto livremente cativa a este magnífico felino. Uma prisão que me enche a alma. O Alexandre perentório afirmou do alto do seu 1m90cm, eu passava demasiado tempo entre feras de quatro patas, nenhum ser humano normal se expressa, miando, enfurecido exemplificava que não ladrava, só porque prefere cães. Mas se para o comum mortal o som mais bonito do mundo é o riso de uma criança, para mim, é o miau dengoso do meu bichano. E quando há quem me separe dele, ou pelo menos tente, doi-me o coração. Na primeira oportunidade, corro para casa e aqui fico livremente cativa deste que me devota um amor genuíno, apenas com um esgar cheio de orgulho e vaidade (para dar e vender), consegue dar-me mais do que outros com um punhado de palavras tiradas de um romance de cordel.

terça-feira, 5 de junho de 2012

O Enterro da gata persa


Já estava decidido. Falei com algumas pessoas que conhecem a identidade da gata e revelei que deixaria de andar por aqui uns tempos, longos. Precisava viver e o que dispensaria em palavras não reaveria em experiência sentidas lá fora, com o sol a bater-me na pele e os sorrisos soltos pelas ruas entre amigos que me querem bem. Mas essa não era a verdadeira razão para deixar este espaço, pelo menos por um tempo que defini, longo. O meu duelo constante com a escrita cansava-me até aos ossos e se escrever faz parte de quem sou, quando o processo se torna numa batalha, mais vale guardar a viola no saco. Alguém, de grande importância na minha vida disse-me, escreve. O quê, perguntei. Escreve, ordenou. Pelo que ainda não é desta que a gata ficará sete palmos abaixo da terra. Escrevo, aqui, acoli. Com ou sem identidade desvendada, escrevo, sobre o que me der na real gana. Ela ordenou e eu sou uma serva aos seus mandos e desmandou, porque sei que me quer bem. Por agora é tudo, um até já:)