Não gosto de crianças. Tantas vezes o digo, tantas vezes se escandalizam. Raispartam, há muita gente que as adora, deixem-me não gosta, ou pelo menos fazer de conta que não. Dizia-se, noutros tempos que os comunistas comiam criancinhas ao pequeno almoço, não é bem o meu caso, até porque alimento-me como um passarinho logo pela manhã, mas ao passo que a generalidade das pessoas se derrete com uma criatura de palmo humano, eu não. Não quero com isso dizer que tenha ficado indiferente, quando no outro dia vi um homem de mau aspecto, completamente alterado aos gritos e murros a tudo, com duas pequenas a seu lado e à beira de um ataque de choro. É uma dor que ainda me consome hoje, o que poderia ter feito? Confrontá-lo? Chamar os seguranças? Qualquer coisa seria melhor do que calar e seguir em frente. Talvez estas meninas sejam um dia como esta mulher que vos escreve, que só conseguiu escapar das garras de um pai psicologicamente violador, quando descobriu que sozinha valia mais do que em casa lhe faziam crer. Não gosto de crianças. Mas jamais me irei perdoar por não ter feito nada por aquelas duas meninas.
