Há um ideia estúpida e que me persegue. Um dia vamos todos morrer de cancro. Preferia que me desse um treco durante o sono e nunca mais acordasse, ficar às portas da morte numa cama de Hospital não me agrada, mas para mim é o que temos de certo nesta vida. Então se vamos morrer de cancro, ao menos seja a rir, assim é a minha sordidez brincar com a doença. É patológico, começou em tenra idade, gargalhar quando o momento requeria algum respeito. A idade avança e estas coisas do carácter não têm melhoras nenhumas. Eu e o Ricardo falamos de refeições económicas. Fascinados por comida de lata, ele acrescenta pão que adora molhar no azeite do bacalhau ou atum, maravilhosa badalhoquice. Não faz ideia desta minha certeza e termina; "com tanta refeição de lata, o zinco a entrar no organismo, vamos morrer com cancro." E, porque o Ricardo deve ser tão parvo como eu, risse.
