Aquele sentimento de inferioridade que me assenta tão bem, leva-me ao mesmo lugar constantemente, ninguém gosta de mim. E se por acaso alguém afirma que gosta, faço o meu ar de espanto e pergunto, mas porquê, como se fosse a coisa mais parva de se gostar. Não era preferível gostar-se de tremocinhos bem salgados na esplanada da tasca de senhor António? Na minha insignificância, perguntei-lhe abismada, afinal, porque gostava de mim, o que teria encantado na minha pessoa. Para gostar mim, que seja por algo maior, uma característica fantástica. Mas, como tantas outras vezes, oiço palavras sábias da boca d'ele "gostei de ti porque me pareceste descomplicada". Mais do que uma fraude, senti-me uma fralda a tresandar a merda. Mal amada, desconsiderada e agora com fama de maníaca. Aos 34 anos era mesmo o que precisava, a par com esta ruga de expressão que não me sai da testa.
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Vampirizados
É termo comum dizermos que somos todos vampirizados pela sociedade. Não sei até que ponto a indústria cinematográfica norte-americana levou este facto à letra, ao ponto de espalhar o fenómeno dos vampiros ao público adolescente. Mas alguém explique a esses jovens imberbes que um dia, serão alvo de uma carnificina tal, cujos predadores não apresentarão caninos salientes, pele pálida ou gélida, por forma a serem distinguidos à distancia. Como jovens adultos terão de arranjar uma maneira de sair dali vivos, daquele circulo de feras. Não nos sugam o sangue, mas certamente levam-nos a paciência ao limite.
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Drunfos
Olha lá, andaste a tomar aquela merda!
Afirmou, com uma certeza, que me deixou na dúvida. Tive de pensar por mais que uma vez. Disse-lhe que não. Já antes me tinham vindo com a mesma conversa, andas a tomar calmantes, tu não estás normal. E instala-se a dúvida, penso, mas não me lembro. É factual que várias vezes preciso recorrer ao meu SOS, um calmante fraco, mas como sou bruta, manda o médico que eu tome um e eu "afinfo" quatro. Tudo porque quero muito deixar de sentir, enquanto há quem dê no charranço, eu tomo o meu drunfanço e tudo me parece relactivo.
Ela insiste, não me mintas, tu andaste a tomar aquela porcaria!
Agora eu sei que já não tomo há imenso tempo. Nunca mais precisei. Não sei como aconteceu, de um dia para o outro, deixei de sentir, sentir-me, nada me rala. Sobrevivo apenas.
Essa não és tu, termina. Quero-te de volta o quanto antes. Mas eu não sei se quero voltar.
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Passeios
Tirar os sapatos num sitio qualquer, soltar os cabelos, deitar-me num banco público, tirar uma foto mental do céu azulão. São as coisas simples que fazem de mim o ser humano mais feliz do mundo. Depois há o cabrão "esfrangalhador" do meu coração, o sacana desrespeitador do meu patrão, o colega de trabalho que insiste em moer-me o juizo. Tudo volta a compensar quando um bom amigo me convida para comer um gelado, e como dois sem abrigo provavelmente num recanto cheio de pulgas, sentamos regalados com o gelado, e muito mais pela conversa.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Orgulho de uma besta
A profissão de sonho. Não sonhei, mas que sorte, alcancei-a mesmo sem a sonhar. Não precisei dormir com directores, vender a alma ao diabo, fazer truques de magia negra ou tramar meio mundo. Suor, lágrimas, dedicação, um longo percurso de evolução pela frente que calcorreei. Tantas vezes em conversa, quando me perguntam sobre o meu historial, briosa falo do quanto que passei, e do tanto que consegui pelo esforço e trabalho. Mas depois em silêncio, já com os meus botões, penso, mas o que alcancei, afinal? Uma profissão de nome sonante que no fim do mês se reflecte em pouco mais do ordenado mínimo, quando já lá vão 15 anos de carreira? Chamaria a isto de orgulho besta!
domingo, 25 de setembro de 2011
Malditos fugareiros
Não há volta a dar, sou um atraso de vida em termos de orientação. Escusam de dizer para comprar um GPS, mesmo assim haveria de perder-me, e depois a maquineta não iria estacionar o carro, outro dos meus dramas. É por isso que os meus itinerários passam sempre por centros comerciais; bons acessos, lugares com fartura e concentra-se num só espaço tudo o que precisamos. Quando a vida me obriga a outros destinos, recorro ao detestável taxista, genericamente odeio-o com todas as minhas forças. É tão forte este sentimento, desde que entro até que saio porta fora, nunca paro de transpirar do buço. Não é sexy, mas é factual...e contra factos não há argumentos.
sábado, 24 de setembro de 2011
Duelo Inglório...
E se um dia alguém te disser...que nunca te irá amar?
O instinto animal diz-nos para armar um barraco, mandar tudo pelos ares, atirar-lhe todos os defeitos à cara, desenterrar fraquezas ou argumentos escabrosos para tentar ferir. Mas para quê? Nada do que possamos dizer suplanta a certeza de não sermos amados um dia. Fomos derrotados muito antes deste duelo começar...
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
O benefício da duvida?
A duvida mata, costuma dizer-se. Eu sou cada vez mais uma mulher de certezas. As minhas dúvidas são relativas a coisas tão tolas como, será que uma bola de morango ficará bem com uma de laranja naquele sorvete que irei comer no Chiado? Mas até nessas dúvidas, deixo a alguém que decida por mim, trata-se de comida e eu como sou "boa boca", em principio, irei gostar. É que há uns tempos, alguém muito sábio disse-me, em caso de duvida, a resposta deverá ser sempre "Não". E faço disso um mantra.
Dependência
Tudo o que vivemos só faz sentido se partilhado. O meu problema é que ainda não consegui crescer o suficiente ao ponto de partilhar, sem criar dependência afectiva. Revoltam-me as pessoas que enchem o peito, erguem o nariz aos céus e julgam ser os super-homem e super-mulher deste mundo, orgulhando-se não precisar de ninguém. Mas, sejamos francos, é de extrema pobreza criar dependência pela primeira pessoa que nos estende a mão como, aparente sinal de gentileza. É que nem tudo o que parece é, e na verdade, a pessoa talvez por maldade, queira somente lançar a manápula para esgravatar um bocadinho mais na ferida que julgávamos ninguém ver.
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Paneleirices...
Eu sou um pássaro, diz a tipa. E o gajo acha aquilo um bocado apaneleirado, mas como ela insiste, cede. Está bem, se és um pássaro, eu sou um pássaro. É assim que deve ser o amor, sem máscaras, medos, resistências, muros de betão a impedir que os sentimentos fluam com naturalidade. Quando um dia lhe dei um beijinho na ponta do nariz e depois o esfreguei à esquimó, disse-me num tom crítico "queres fazer de mim um maricas de merda!". Seriam as nossas mariquices e ninguém precisava de saber, porque entre um casal não deve haver tabus nem medição de forças. Não estamos num campo de batalha, pois não?
Erótico qualquer coisa
Toda a gente tem sonhos eróticos, menos eu. É uma tristeza mas no meio dos mil e um sonhos que me assolam durante a noite, nenhum é de teor erótico-sexual. Há, no entanto, um dia excepcional que acordei aturdida com o meu primeiro e único sonho erótico. Faz muitos anos, tantos, que já valia a pena o meu subconsciente conceder-me mais um bombom desses, mudando porém, o protagonista da façanha. Tudo corria bem. Lá estava eu de quatro no acto, um senhor com idade para ser meu pai, (repugnante bem sei, mas a cavalo sonhado não se olha à idade) e acordei nas nuvens, com imagens que ainda hoje guardo, saudosa. A questão impõe-se, porque haveria de captar para meu universo erótico, Chris Kristofferson?
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
A grande verdade
Poucos entendem a minha paixão pelos animais. Também não me apetece explicar, nem fiz questão de alguma vez argumentar sobre isso. Amo-os incondicionalmente como sei que me amam a mim. E tal como eu concebo o amor, sem merdas, assim são eles. A grande inevitabilidade é que irão partir-nos o coração um dia quando deixarem este mundo e se instalar um enorme vazio na nossa vida.
Penetras
Lixa-me que as pessoas sejam colocadas em prateleiras como os enlatados no supermercado. Dividem-se pelos vários estatutos, categorias, competências ou pelo que aparentam. Na sociedade está tudo tão bem segmentado com grupos, mas há sempre um penetra, que deixa os demais à beira de um ataque de nervos. Há sítios onde os ricos só deveriam frequentar, afinal o que faz aquela pindérica com um vestido da Zara, aqui? É por essas e por outras, nas minhas idas ao supermercado deixo sempre um qualquer produto perdido ao acaso. Ontem, M&M na secção do leite. Havia tanto que poderiam ter conversado noite dentro, caso houvesse tolerância...
terça-feira, 20 de setembro de 2011
Bola de neve...
Cada vez que sorria, genuinamente odiada. Inveja, diziam-me. De um ordenado miserável? De uma situação amoroso tristíssima? De quê, dava voltas à cabeça! Sei que o simples sorriso nas adversidades enfurece quem não consegue dar-se por contente com os grandes feitos alcançados diariamente. O dinheiro é certo na conta, os carros à porta do chalé, as obras e remodelações em casa, as férias de Verão numas ilhas exóticas, mas não conseguem sorrir e ser felizes. Eu carrego a minha própria bilha do gás, porque não há quem me ajude ao longo de dois lanços de escada, durmo com um gato que me morde, conto rolos de papel higiénico e já não sei o que é sair de Lisboa há muito tempo. Sorrio todos os dias, ora porque faz sol ou chuva, sorrio porque sim ou porque não, também. Tal como me encharco em chá, assim tento fazê-lo em porções diárias de felicidade...pequenas e deliciosas doses, para apreciar cada momento.
O parente menor
Na adolescência adorava a gentileza do William Hurt, antes tinha-me apaixonado, na infância, pela virilidade do Rock Hudson. Os filmes que passavam na TV marcam em muito o meu sentido de estética, para o bem e para o mal, infelizmente na maior parte das vezes é para o mau...por exemplo, alguém se lembra da série «O Cão Vagabundo»? Pois, concerteza que não, há coisas que é preferível esquecer.
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
Demasiada testosterona?
Desgasta-me fazer compras semanais. Para evitar o embaraço, visto a minha carapaça de atleta de alta competição. Cestinho com as rodinhas, a lista por ordem mental, correndo de corredor em corredor, numa pressa desmedida, como se tivesse uma criancinha para amamentar em casa. Cruzo-me com os casais que fazem das grandes superfícies comerciais local de turismo, romaria, ou até ajuste de mal entendidos, quando a coisa dá para o torto e a discussão ganha dimensões intimidatórias para quem passa e nada quer ter a ver com aquele filme. Porque os meus hábitos alimentares são de um solteiro e alimento-me de latas, como o meu gato, resolvi usar as caixas automáticas e escuso sentir-me inibida com a quantidade industrial de atum ou bacalhau em lata, ao qual junto chocolate, também em quantidade significativa...e como qualquer homem solteiro, também acrescento preservativos, coloridos e saborosos (um toque "girlie", pois claro).
Eu vou ali apalper-me entre as pernas, se me permitem, a última vez que espreitei não tinha crescido nenhum penduricalho, mas começo a ficar preocupada...
E tu, não tens coração?
O psicopata não é só o que esventra corpos e os coloca na arca frigorífico para mais tarde, fazer quem sabe, um petisco, cujo cheiro de putrefacção se espalha pela vizinhança, mas ao assassino inebria. Então e os que entram de fininho na nossa vida, sem faca afiada ou serra eléctrica nos destroçam os sentidos, depois de acreditarmos ter perante nós um espécime fora de série. Talvez o seja, no jeito tão ardil como alcança o nosso coração e com uma só mão o desfaz ali mesmo, em pó, definhamos a seus pés, pedimos clemência e da nossa boca uma só pergunta "e tu, não tens coração?"
Flores Silvestres
Ele tem nome de erva indomável, homem cinquentão, com um charme indescritível, e trata todos os seres humanos, os válidos e os que nem tanto, como flores do mais fino recorte. É delicado este homem que me encanta. Jamais conseguirei tratá-lo por "tu", tal é a minha visão etérea da sua existência na minha vida, é com gosto e reverência que uso de "você" com um respeito quase religioso. São destas forças da natureza, nascidos de ventres bondosos, que reside a minha esperança em não me afastar completamente da raça humana, preferindo-a definitivamente à felina. Sim, Maria Lisboa, eu ainda creio nas pessoas, resta-me saber por quanto tempo!
domingo, 18 de setembro de 2011
Amigos da onça?
Há muitos anos desisti de ter amigos. Talvez porque não compreendesse que a amizade implica aceitar as diferenças, e que não podemos dispor da vida dos outros com um controlo remoto. Não tenho um milhão de amigos, nada disso, bem pelo contrário, sinto aquele estranho estigma de "alone with everybody". Porém, algo me reconforta, mesmo sabendo que na altura que precisar, nenhum deles irá atender o telefone, há um grupo de pessoas que se conta pelos dedos de uma mão gosta genuinamente de mim e para já, basta-me. Obrigada.
É isto o amor?
Eu sou a que acredita no amor.
Amor maternal, fraternal, amoroso, carinhoso, animal ou carnal, se quisermos até em termos mais extremos, porque não canibal! Sim, Eu como-te a ti, tu comes-me a mim e canibalizamo-nos como só quem ama sabe canibalizar!
Eu acredito que o amor trouxe-nos até aqui.
Viver, sentir, arrepiar, correr, transpirar, perder o pé, cair, partir a cabeça ou até ficar com o coração em frangalhos. Tudo faz parte do nosso propósito enquanto humanos.
E se um dia tudo o que aqui escrevi deixar de fazer sentido para mim? Por favor, enviem-me a certidão de óbito, quer dizer que morri e não dei por isso...
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